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Entrevista

Setembro Amarelo: é preciso falar!

Publicado em 6 de setembro de 2020 às 15:00
Atualizado em 6 de setembro de 2020 às 15:01
Dra. Lígia Barcelos (CRP 16/2490). Foto: Arquivo pessoal

Estamos em setembro, mês escolhido como foco de iniciativas que tratam da prevenção ao suicídio, ato cometido por três mil pessoas diariamente em todo mundo. De acordo com a Dra. Lígia Barcelos (CRP 16/2490), que atua em Guarapari, há muita pesquisa sobre os fatores de risco e pouca sobre os de proteção. Para ela, apesar do tema delicado, é preciso falar sobre prevenção do suicídio, pois é através da boa informação que é possível desmistificar o assunto e muitos pensamentos errados sobre a questão, ajudando, assim, a salvar vidas. Confira a entrevista feita com a psicóloga:

Revista Sou: Quais as principais motivações que levam uma pessoa a atentar contra a própria vida?

Dra. Lígia Barcelos: O suicídio é multideterminado. As pessoas cometem suicídio para parar de sofrer e não porque querem morrer, é quando a dor está maior do que ela pode suportar. Quando acontece uma crise e o cérebro não está no estado normal. Por isso, a natureza dos fatores de risco varia bastante, como a influência da genética, elementos da história pessoal e familiar, fatores culturais e socioeconômicos, acontecimentos estressantes, traços de personalidade, transtornos mentais, entre outros. Há os fatores que são características pessoais, que são imutáveis, como histórico de abuso sexual e tentativa de suicídio. Mas, outros, como transtornos mentais, estados emocionais e acesso aos meios letais, podem ser modificados. É importante falar também sobre os fatores de proteção contra o suicídio. Entre eles, podemos citar: flexibilidade cognitiva, pedido de ajuda, habilidade para se comunicar, boa relação familiar, integração e bons relacionamentos em grupos sociais – amigos, vizinhos, colegas –, espiritualidade/religiosidade, estar empregado, acesso aos serviços de saúde mental e boa regularidade do sono, por exemplo.

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“O gesto suicida não surge por acaso e constitui sempre uma tentativa de comunicar, quando outras formas de comunicação se revelam ineficazes ou inúteis para quem mais do que morrer, gostava de conseguir viver consigo mesmo” – Shneidman

RS: Os dados são muito alarmantes. Lidamos de forma equivocada com as questões que levam ao suicídio?

LB: Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), diariamente, suicidam-se cerca de três mil pessoas em todo mundo, uma a cada 40 segundos – e, por cada pessoa que se suicida, 20 ou mais cometem tentativas de suicídio. E mais, os dados apontam que o suicídio é a segunda causa de morte, a nível mundial, em jovens com idades compreendidas entre 15 e 29 anos.

“Em cada sujeito que se mata, há o fracasso de uma proposta comunitária” – Kalina y Kovadloff, 1983: 64

A frase mostra que o suicídio não é uma questão exclusivamente médico-psicológica, mas, que devido à complexidade, deve ser abordado também em outras áreas, como sociológica, cultural, religiosa, biológica e etc. Todos nós precisamos fazer a nossa parte. Temos muita pesquisa sobre os fatores de risco e pouca sobre os fatores de proteção.

RS: Falamos muito do ato consumado, mas tentativa é um importante sinal de alerta e, ainda, a chance de fazer algo, certo?

LB: Ambos os comportamentos mostram que a pessoa precisa de ajuda. Ainda de acordo com a OMS, 50% das pessoas que morreram por suicídio fizeram, pelo menos, uma tentativa prévia. E o sinal de alerta já começa se a pessoa tem pensamentos de morte, vontade de não existir, mesmo sem sequer ter planejado ou tentado o suicídio. É preciso procurar ajuda nesses primeiros sinais.

RS: A pandemia agravou o cenário?

LB: Provavelmente sim. Estamos passando por um período de crise e, em momentos assim, nossa mente-corpo ficam em estado de alerta. É um período bastante delicado e que precisamos ter ainda mais atenção e procurar ajuda especializada caso seja necessário.

RS: O que as pessoas podem fazer para ajudar? O que é errado fazer ou falar?

LB: Assim que forem identificados sinais de risco, a pessoa pode ser um bom ouvinte, não julgar, nem dar conselhos, demonstrar disponibilidade para ajudar e empatia, não mudar de assunto e nem falar frases do tipo “vai ficar tudo bem” ou “se anime”. Não infantilizar a pessoa, não desistir de ajudar e não fazer cobranças por melhora. Outros fatores de proteção mais amplos são: economia ir bem, sem muita desigualdade, programas de habilidades de enfrentamento para crianças e redução substancial de todas as formas de violência. Estudos mostram que quando diminui a taxa de violência, diminui também a taxa de morte por suicídio.

A psicóloga ressaltou o uso das tecnologias para obter ajuda por telefone e chat on-line. Além das pessoas próximas e profissionais especializados, existe uma rede de apoio oferecida pelo CVV – Centro de Valorização da Vida. Contato pelo telefone: 188 ou pelo chat no site cvv.org.br

Dra. Lígia também indica o site do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, que traz bastante conteúdo sobre o tema, como informações, materiais on-line, cursos, orientações, entre outros

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